Design e a Crise – Gui Bonsiepe

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Gui Bonsiepe é dos mais conhecidos designers e teóricos do mundo. Ex- aluno e ex-professor da lendária escola de Ulm, fundou no Brasil o Laboratório Brasileiro de Design Industrial (LBDI) e criou o Laboratório Brasileiro de Desenho Industrial, em Florianópolis, Santa Catarina. Bonsiepe também é responsável pela formação e atualização de muitos profissionais e professores brasileiros.

Em 20 de março, Bonsiepe proferiu palestra na Atec Cultural. Nela, abordou a crise atual sob a perspectiva do design, e trouxe várias reflexões para os mais de 120 participantes presentes no evento.

Na oportunidade, o professor fez uma crítica à atual abordagem do design e destacou a importância da recuperação das origens da profissão. Origens essas, que muito diferem da visão puramente artística e comercial que vem sendo difundida nos dias atuais. Segundo Bonsiepe, não se pode esquecer que “o design tem a função imprescindível de integrar ciências e tecnologias na vida cotidiana de uma sociedade, concentrando-se na zona intermediária entre produto e usuário, chamada de ‘interfaces’. Dessa maneira, o Design pode contribuir para – aproximando-se da formulação de Bertolt Brecht sobre a literatura – fazer mais habitável o mundo dos artefatos materiais e simbólicos”.

As reflexões de Bonsiepe não tiveram a intenção de alarmar – nem amenizar – os efeitos da crise mundial dos últimos anos. Mas, sem dúvida, traçam um caminho a seguir. “A crise oferece a oportunidade – e impõe a obrigação – de revisar os valores de referência aceitos até o momento”, afirmou o professor.

Acompanhe abaixo mais algumas reflexões sobre Design e a Crise apresentadas por Gui Bonsiepe .

“Poderia ser tentador seguir as invenções poético-surrealistas do newspeak, da neolíngua cujos adeptos revelam uma criatividade extraordinária para construir uma imagem harmonizante de uma realidade que é tudo menos harmônica”.

“Fica por ver se as promessas do design sustentável podem ir além de ser um paliativo compensatório e contribuir para o surgimento de uma nova relação entre homem e natureza, e um novo regime de valores que não considera a natureza como um recurso a ser explorado, mais sim um domínio a ser cuidado. Além disso, parece-me necessário não limitar o conceito da sustentabilidade aos aspectos biológicos, mais sim ligá-lo ao conceito de sustentabilidade social.”

“A pessoa do designer adquiriu mais importância que o próprio design (…). Antes o papel do designer era comparável ao papel de uma atriz ou de um ator no teatro: posicionar-se ao lado do personagem que representa e não confundir a contingência da pessoa com o papel que está sendo representado no teatro”.

“No momento, o status cognitivo do design está coberto por um véu de dúvidas, pois se desenvolve predominantemente no domínio da visualidade, intimamente entrelaçado com a experiência estética, e menos no domínio da discursividade”.

“(…) o Design não é orientado em primeiro lugar para a criação de novos conhecimentos, mas sim, às práticas da vida cotidiana. (…) não em termos de eficiência física como acontece nas engenharias, mas sim, em termos de comportamento inserido na dinâmica cultural e social.”

“Parte da crise do design está ligada ao fenômeno sociocultural dos anos 1990 quando o conceito “design” experimentou uma explosão na mídia, o que levou a uma perda do rigor do significado original com a consequência de que hoje o termo, na opinião pública, é frequentemente reduzido aos aspectos estético-formais e associado ao efêmero, ao caro, ao pouco prático e até ao supérfluo”.

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